quinta-feira, 26 de abril de 2007

Viagem através dos séculos*

de Kyoto, Japão

Fundada em 794 com o nome de Heian — capital da paz e tranqüilidade — Kyoto foi o centro político, cultural e administrativo do Japão dessa época até o final do período Edo, em 1868. Nesta e na próxima edição de Tablado, vamos percorrer os templos, castelos, caminhos e segredos de uma Kyoto moderna, mas que tanto preserva as milenares tradições japonesas.


Entretanto, antes de começarmos essa viagem no tempo, é preciso que se faça uma pequena observação religiosa: O japonês, é em geral, xintoísta e budista, dependendo da ocasião. As cerimônias de casamento, por exemplo, são, em geral, xintoístas. Os funerais, budistas. Muitos dos locais de adoração estão situados no mesmo terreno, mas nem por isso o japonês confunde as coisas. Os deuses xintoístas são venerados nas jinja, ou santuários. Já Buda está nos templos, cujos nomes são identificados pelo sufixo ji ou dera.

Alguns tão antigos quanto a cidade, os templos de Kyoto estão espalhados por todos os cantos da antiga capital. Uns só têm uma portinha; outros, ocupam vários quarteirões. Entre tantas, uma das construções mais impressionantes é Sanjusangen-do, do século 12. É a estrutura mais longa do mundo e em cujo salão retangular estão perfiladas nada menos que 1001 imagens de Kannon, a deusa da misericórdia. O Ninna-ji — outro ponto alto da rota religiosa de Kyoto — foi construído em 888 e chegou a compreender 60 subtemplos, muitos deles destruídos por terremotos e incêndios que arrasaram a cidade através dos séculos.

Mas a maior atração budista está no alto de uma das montanhas que cercam a cidade. Depois de subir a Kiyomizuzaka, uma rua estreita, cheia de lojinhas que vendem chá verde e bolinho de feijão, chega-se ao Kiyomizu-dera, ao qual milhares de peregrinos vão para beber da fonte sagrada (daí o nome, que quer dizer água pura) e para avistar a cidade da varanda do salão principal, uma das maravilhas da marcenaria japonesa, construída toda em madeira e sem pregos.

Castelos e pavilhões - E quem foi que disse que no século 16 não existia alarme contra espertinhos que tentassem adentrar residências alheias? Pois pelo menos no castelo Nijo (lê-se Nidjô), em Kyoto, construído pelo xogum Ieasu Tokugawa, havia sim. E existe até hoje: é o piso rouxinol, cujas tábuas são encaixadas de tal forma, que quando pressionadas, reproduzem um ruído parecido com o do passarinho, chamando a atenção de quem estiver por perto.

Na época, o castelo Nijo representou o máximo do poder e da riqueza. Curiosamente, foi nesse mesmo castelo que o último dos Tokugawas abdicou, já na segunda metade do século 17. No chão, só há madeira e tatame. É possível visitar as acomodações, mas quem não descalçar os sapatos, como faria em qualquer residência japonesa, não entra. As paredes são cobertas pelas maiores pinturas de paisagens, pássaros, flores e tigres da escola Kano. Rodeados pelos motivos bucólicos estão réplicas dos daimyo, os senhores feudais, devidamente curvados, prestando homenagens a Tokugawa.

Tão impressionante quanto o castelo Nijo é o Kinkaku-ji, o Pavilhão Dourado. Construído por um dos xoguns Ashikaga, virou templo depois da morte de seu empreendedor, que aos 37 anos abriu mão de seus deveres oficiais para tornar-se sacerdote. Para chegar ao Pavilhão Dourado, trilha-se caminhos tipicamente japoneses, de árvores cuidadosamente aparadas e de troncos retorcidos. No meio do terreno, um lago e o castelo, cujos três andares são inteiramente folheados a ouro.

O Ginkaku-ji, ou Pavilhão de Prata, no outro extremo da cidade, serviu de retiro ao xogum Yoshimasa, neto de Ashikaga. Em homenagem ao avô, Yoshimasa decidiu cobrir o Ginkaku-ji de prata, mas teve de desistir da idéia por causa da guerra civil de
Ônin, a qual acabou deixando Kyoto praticamente em ruínas.


Publicado em dezembro de 2002 -
*Em duas edições de Tablado.

Um comentário:

Anônimo disse...

No Japão tem quero-quero?