sexta-feira, 29 de junho de 2007

Pequim: A Cidade Proibida

Uma cidade desenhada ao longo de um eixo central cortando o terreno de Norte a Sul. Uma linha ligando prédios governamentais. Não, não me refiro a Brasília, mas a uma cidade assim planejada, só que mais ou menos dois mil anos antes: Pequim. Uma cidade que cresce literalmente do dia para a noite, mais ou menos como todos os grandes núcleos urbanos chineses.

Só que em Pequim os contrastes são gigantescos. As ruelas vão dando lugar às grandes avenidas. Os pequenos cortiços e casinhas tradicionais vão sendo substituídos por arranha-céus envidraçados. De um lado, a Cidade Proibida e o Templo do Céu. De outro, os grandes hotéis de cadeias estrangeiras. No meio da selva de concreto, por entre os guindastes, mais de 14 milhões de chineses que ainda não entenderam muito bem que a China entrou no mundo globalizado.

Pequim se divide entre o velho – duas seções antigas no centro da cidade – e o novo, uma área residencial, industrial e institucional, construída pricipalmente depois de 1949. Muita história que a Trilha Revista vai contar, a partir desta edição.

No primeiro trecho da nossa viagem, passamos pela parte antiga da Pequim, que consiste em uma cidade interna quadrada, construída entre 1409 e 1420, cercada por uma muralha de 24km de comprimento e 15m de altura. No centro, a Cidade Proibida, que foi assim chamada porque a ela não era permitido o acesso de cidadãos comuns, afinal de contas, a família imperial viveu ali entre 1421 e 1923. O último imperador, Aisisn-Gioro (Henry) Puyi foi forçado a abdicar em 1912, mas pôde ficar no Palácio até bastante tempo depois. Hoje, o complexo abriga, entre outras fantásticas instalações, o Museu do Palácio, fundado em 1925, mas que só foi aberto ao público em 1949.

De todas atrações turísiticas chinesas, a Cidade Proibida é a mais visitada. Segundo o governo chinês, mais de sete milhões vão o Palácio todos os anos, mesmo com a restauração que começou em 2002 e só deve terminar em 2020. Até lá, volta para o lugar o que – através dos séculos – foi saqueado ou destruído pelo fogo.

Publicado em 11 de dezembro de 2004.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

China de todas as crenças

de Pequim

Liberdade de credo é direito garantido pela constituição chinesa. Salvo em tempos de tensão política, como na Revolução Cultural, entre 1966 e 1976, ou quando se fala em Budismo Tibetano, a China se mantém entre os países com maior diversidade de culto religioso – ao contrário do que se pode imaginar à primeira vista. Vão das crenças tradicionais, como o confucionismo e taoismo passando pelo budismo, islamismo e as mais diversas formas de cristianismo.


Em Pequim estão dois dos dez mais fantásticos templos chineses. O Tian Tan, ou Templo do Céu, concluído em 1420, simboliza a relação entre céu e terra – o mundo de Deus e o mundo humano, centro da cosmogênese chinesa – além do papel dos imperadores nessa relação. Parte do Templo do Céu, o Qinian Dian, ou “salão de orações para a boa colheita” é uma edificação circular feita em madeira, sem a utilização de um único prego. Considerada o maior símbolo da arquitetura imperial chinesa depois da Cidade Proibida, foi consumida pelo fogo em 1889, mas no ano seguinte uma réplica do salão de telhado azul de 38m de altura e 30m de diâmetro substituiu a original.

No meio do salão, 28 pilares simbolizando constelações foram arranjados conforme as divisões do tempo: quatro centrais para cada estação do ano; os 12 seguintes, para os meses, e os 12 externos representando as horas do dia. E nessa miscelânea de simbologias, o que mais impressiona é o teto, um caleidoscópio de estruturas pintadas com figuras de dragões e fênices.

Tal como na Europa pré século 20, na China o limite entre religião e governo – principalmente durante as dinastias Ming e Qing – foi bastante tênue. O maior exemplo dessa simbiose é o Templo de Lama, o Yonghe Gong, uma imensa residência que virou templo quando Yongzheng tornou-se imperador e mudou-se para a Cidade Proibida.

Yonghe Gong foi concluído em 1694 e convertido em mosteiro de lamas em 1744. Sob os telhados amarelos, há hoje uma coleção de queimadores de incenso, alguns deles datados do século 18, além de uma urna usada em rituais durante o reino de Qing Qianlong, imperador que determinava reencarnações de Dalai Lama, o líder da seita Budista no Tibete.

Publicado em 5 de fevereiro de 2005.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Bem por trás do exército de terracota

de Xi’an, China

Quem não ouviu falar nos guerreiros de Xi’an expostos na Oca, em São Paulo, no ano passado? O que nem todo mundo sabe, é que por trás do fantástico exército modelado há mais de 2 mil anos para guardar a tumba do imperador Qin Shi Huangdi, existe muito mais do que tais estátuas de argila cozida.


Escondida no final de uma ruela — na qual vendedores vestidos como manda a tradição muçulmana comercializam de tudo — está um dos tesouros arquitetônicos da cidade. Qingzhenssi, a Grande Mesquita, foi fundada em 742 d.C, em plena dinastia Tang, época em que Xi’an era chamada Chang’an (em cinês, “paz eterna”) e servia de base militar e comercial para o conturbado controle chinês da Rota da Seda. A Mesquita, em seus pavilhões, torres e plataformas, mistura estilos tradicionais da arquitetura Han e Islâmica: telhados de pontas retorcidas, típicos chineses, mas de telhas azul-esverdeadas, pouco comuns na arquitetura local. Um dos pontos mais tranqüilos da cidade, Qingzhenssi é também o centro da comunidade islâmica que reside na cidade há mais de 1.200 anos.

Outro ponto alto da cidade (literalmente, pois tem 64 metros de altura), considerado obra-prima da arquitetura, é o Dayan Ta, ou Pagode do “Grande Ganso”, o mais conhecido templo de Xi’an. Construído em 652 d.C, abriga escrituras e as estátuas de Buda trazidas da Índia na dinastia Tang.

Mais afastadas do centro de Xi’an, mas não menos grandiosas, estão as piscinas Huaing, ou as Termas dos “Nove Dragões”. Nestas águas cálidas, ao longo de mais de 3 mil anos, imergiram imperadores, que, através das dinastias iam construindo no local novos nichos para desfrutá-los com suas concubinas. Muito mais tarde, em 1936, foi em um dos pavilhões de Huaing que culminou o Incidente de Xi’an. Negando-se a se aliar ao Partido Comunista Chinês para lutar contra o Japão, o general Chiang Kai-shek optou por lutar contra ambos. Escondeu-se em Huaing para ser então capturado por dois generais nacionalistas. Recuou seu governo para Formosa (Taiwan), onde continuou atuando, dali para frente como presidente da recém-formada República da China.

Publicado em 1º de outubro de 2004.
Foto de Chiang Kai-shek: Governo dos Estados Unidos (Domínio Público)