quinta-feira, 12 de abril de 2007

Descobrindo a metade do mundo

de Quito, Equador

Quando anunciei que deixaria Tóquio rumo ao Equador, Ricardo Miranda, editor de Tablado, lançou-me a seguinte pergunta: “e o que você vai escrever quando estiver na metade do mundo?” Não hesitei em responder que isso não seria problema, embora de segundos depois, até botar os pés na mais antiga capital da América do Sul, senti uma sensação imensa de não ter a menor idéia sobre quais seriam meus assuntos. Índios? Amazônia? Incerteza política? As perspectivas não eram das mais animadoras.


Aqui chegando, no entanto, fui atingida por uma avalanche de novidades e hoje, a dúvida não é sobre “o que escrever”. Mas o que escrever primeiro. O Equador é muito, mas muito mais do que índio e Amazônia. O que, infelizmente pouca gente se aventura a descobrir.

São 12 horas de dia, 12 de escuridão. Todos os dias. Na metade do mundo, o sol nunca muda de posição. Talvez por isso, em Quito tem-se a sensação de que o tempo passa muito mais rápido. De que a luz do sol é muito mais forte. De que as pessoas têm um ritmo muito diferente. Não pelo calor amazônico que aqui não chega graças à altitude de mais de 2.800 metros sobre o nível do mar. Mas por uma certa indolência característica deste lado de cá do mundo. E, ao contrário do que imaginávamos Ricardo e eu, Quito tem muito mais a ser descoberto.

E para quem decide encarar a serra equatoriana, a mais nova atração na cidade é um teleférico, inaugurado em maio de 2005 e que tem atraído milhares de visitantes todos os dias, a maioria nativos, que dificilmente tiveram outra chance de ver a cidade de tão alto. Sobe-se de carro até 2.950 metros, onde há uma estação muito bem organizada, com catracas de cartões magnéticos e mocinhas treinadas para organizar filas que eventualmente serão quilométricas. De lá se pega o bondinho para subir, preferencialmente de costas para o morro, numa preview do que se vai ver lá em cima. O ponto final é a 4 mil metros, mas quem tiver fôlego para caminhar no ar rarefeito pode subir a pé mais algumas centenas de metros. O ar é escasso mesmo, a cabeça pode doer, as carótidas latejam. Mas o esforço vale a pena. Lá do alto se vê o vale e um pedaço do centro histórico tombado pela UNESCO em 78. É uma vista deslumbrante, capaz de emocionar até o quitenho mais indiferente.

Publicado em 19 de agosto de 2005.

Um comentário:

Unknown disse...

Acho que Maria Alice tem ração, o Equador tem muitas coisas pra desfrutar. Viajando em carro, se pode mudar de uma paisagem completamente diferente a outra em pouco tempo, com comida diferente (e muito gostosa), clima diferente, características geográficas variantes. É uma experiência inolvidável visitar um país com muita riqueza cultural, natural e que pode oferecer tanto. Parebéns Maria Alice por tão bom trabalho!
Virgínia