terça-feira, 17 de abril de 2007

Não só sobre as ondas se vive na Califórnia

de São Francisco

Suba os Estados Unidos de carro, costeando o Pacífico. Passe por Monterey e Half Moon Bay. A 45 quilômetros ao norte dali está a cidade da Baía, dos hippies e do rock psicodélico dos anos 60. Da ponte Golden Gate, dos bondes e das casas em estilo vitoriano por sobre as ladeiras. Visitar São Francisco é ponto pacífico numa viagem à Califórnia. Não é necessário permanecer muitos dias, mas esteja certo de que vai gastar um bocado de sola de sapato e vai precisar de um certo espírito aventureiro, pois não se sabe quando o próximo terremoto vai sacudir a cidade.

Se seu forte não forem as caminhadas, o que não faltam são meios de transporte pouco comuns. Experimente um passeio de bonde (cable car). O trajeto é feito a 15 km/h, mas é muito divertido. Ainda mais se você for pendurado no balaústre. Em SF, os bondes estão em funcionamento desde 1873 e foram criados por um engenheiro inglês que tinha pena dos cavalos que levavam carruagens ladeira acima.

Há também os street cars — um tipo de bonde com jeito de ônibus. São mais simpáticos que os ônibus convencionais e conservam o estilo art déco. É com eles que se pode chegar ao Castro, onde desde o fim dos anos 60 vive a comunidade gay são-franciscana. São bandeiras de arco-íris por todos os lados, mil cafés e restaurantes, além de lojas de “brinquedos” e “equipamentos” interessantes até para os apenas “simpatizantes”.

Na Marina, mais ao norte, tem-se uma das melhores vistas para a ponte Golden Gate. Quando o fog não atrapalha. Só não esteja por perto em dia de terremoto. O bairro, um dos mais elegantes da cidade, foi construído sobre um aterro e com qualquer abalo chacoalha com vontade. Seguindo pela Marina ao leste, encontra-se o Fisherman’s Wharf, antigo porto da cidade, movimentado pelas distribuidoras de peixe e frutos do mar, mas que hoje não passa de um centro turístico cafona e decadente. Talvez a única coisa autêntica que tenha restado seja o cheiro de peixe.

É do Fisherman’s Wharf, entretanto, que sai a barca para Alcatraz. Conhecida como “A Pedra”, a ilha está a pouco mais de dois quilômetros da cidade, no meio da Baía de São Francisco. Alcatraz foi descoberta em 1775 e recebeu esse nome por causa da grande quantidade de pelicanos (em espanhol, alcatraz) que habitavam a ilha. De 1850 a 1933, a pedra foi ocupada por militares e em 1934 o governo transformou o forte na primeira prisão de segurança máxima do país. Para lá só iam prisioneiros “incorrigíveis”, como o gângster Al Capone.

Em 1963 o então ministro da Justiça Bob Kennedy resolveu fechar as portas de Alcatraz e em 1972 a ilha virou área de recreação nacional. Hoje a pedra recebe mais de um milhão de visitantes por ano. Lá, guardas florestais bem treinados e bem-humorados se encarregam de guiar o passeio pelas instalações. No edifício das celas, cada visitante recebe um aparelhinho de áudio, cuja gravação se encarrega de dar o clima dos anos negros do presídio, com histórias mirabolantes contadas pelos próprios detentos.

Publicado em 27 de abril de 2001.

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