segunda-feira, 23 de abril de 2007

Fugindo do frio da Grande Maçã

de Nova York

O primeiro inverno que você passa em Nova York é lindo. Quando começa a nevar é como chegar à Disney World. No segundo inverno na cidade, você começa a achar que o frio não precisava durar de novembro a março. Só um white Christmas, ou um "dezembro branco", como eles dizem, pra dar aquele clima de Natal, já seria o suficiente. Na sua terceira temporada em Manhattan, as coisas começam a ficar críticas. Você demora pelo menos um mês para admitir que se não usar luvas seus dedos vão cair de frio e quando os termômetros voltam a chegar aos 10ºC você tem certeza absoluta de que pode sair de camiseta e short. De que vai se esparramar na grama do Central Park e tomar aquele bronze. No desespero, ou você se conforma, ou sai da cidade.


E se o negócio for ficar em território norte-americano, não é porque você está em busca de ares mais cálidos que vai radicalizar e acabar em Miami. É claro que a temperatura lá estará muito mais agradável, mas falta de criatividade (e até de bom gosto) tem limite. Por que não go west? Afinal — apesar de os nova-iorquinos ignorarem este fato — há sim o que fazer em outros estados da Nação de Tio Sam. Por isso, nesta e nas próximas edições vamos dar um giro pelo Parque Nacional do Grand Canyon, no Arizona, passando por Las Vegas, no estado de Nevada, chegando à ainda psicodélica São Francisco, na Califórnia.

Chegando ao Arizona de avião, o resto da viagem pode ser feito por terra. O caminho, é claro, você escolhe. Tanto pelas freeways que chegam a dar sono, de tão lisas e retas que são, quanto pelos caminhos mais sinuosos, inclusive passando pela famosa Route 66.

Construída nos anos 20 como parte do programa nacional de desenvolvimento de rodovias do governo norte-americano, a 66 simbolizou o espírito de independência da era do automóvel. A estrada ligava Chicago a Los Angeles, e hoje, só quem passa por lá é curioso ou quer matar as saudades. No Arizona, a paisagem árida enche os olhos, mas em alguns trechos em que a 66 ainda não foi engolida pelas highways, há pouca sinalização e pouquíssimos serviços. Não perca, na próxima edição, a chegada ao Grand Canyon.

Publicado em 10 de março de 2001.




Rei Arthur, pirâmides e muito dinheiro
de Las Vegas

O que seria de Nevada se não fosse Las Vegas? Certamente nada no meio de coisa nenhuma, ou, como dizem os americanos, o boondocks (lê-se búndax). Graças aos cassinos mais famosos do mundo, no entanto, o estado pode se queixar de qualquer coisa, menos de falta de dinheiro. Las Vegas, uma das cidades que mais cresce no país, chega a receber 32 milhões de visitantes por ano.

As duas áreas principais de Vegas são o Strip – ou o Las Vegas Boulevard South - e Downtown, onde a cidade começou a se formar mas que hoje está bastante decadente. Nos trechos sul e central do Strip encontram-se os melhores hotéis, restaurantes e cassinos. Mas, se você espera entrar num hotel luxuosíssimo para ver gente bonita e elegante, lembre-se que o tanto de grana que circula por lá pode ser inversamente proporcional à beleza dos freqüentadores: LV é, certamente, o lugar onde se encontram mais indivíduos sem charme por centímetro quadrado do país.

Poucos, no entanto, vão à cidade para ver gente. O negócio é abrir a mão e passar horas nas mesas de bacará, pôquer, roleta. Jogando dados ou torrando moedinhas nos caça-níqueis. Agora, se você acha que está em seu dia de sorte, não vá se abancando na mesa do primeiro crupiê. É necessário ter o mínimo de conhecimento sobre o jogo e começar pelos que têm apostas mínimas pequenas. Nesses casos, os cassinos de Downtown são os mais indicados.

Apesar da fama dos jogos de mesa, apostas nos caça-níqueis são as mais freqüentes. Há 115 mil máquinas do tipo na cidade e a procura é tanta, que elas rendem mais que as mesas de roleta, blackjack e dados juntas. Entretanto, se você acha que vai fazer fortuna só baixando alavancas, saiba que não existe receita mágica para ganhar nos caça-níqueis. Apenas formas de perder dinheiro mais lentamente. Uma dica é observar as fileiras de máquinas. Cada uma funciona com um timer, marcando o tempo que a máquina leva para soltar dinheiro. Se a fila estiver vazia, é porque você vai precisar pôr mais moedas até ganhar alguma coisa.

Agora, para quem não pretende passar o tempo todo enclausurado num cassino, uma boa idéia é alugar um carro. Você terá maior mobilidade pela cidade e arredores, e não terá dificuldade em arranjar estacionamento. Todos os grandes hotéis têm garagens imensas com manobrista, que além de ficarem satisfeitos com qualquer um dólar de gorjeta, ainda trazem o carro com o ar-condicionado ligado – perfeito para os dias de agosto, quando a temperatura chega facilemente a 41°C.

Aproveitando a mordomia do valet parking, pode ser bem divertido ir de hotel em hotel, apreciando a falta de gosto na decoração “temática”. E aí, prepare-se para encontrar de tudo: de gigantescos lustres medievais, passando por pirâmides, esfinges e um canal com gôndolas e gondoleiros cantores. E o cúmulo da inautenticidade na reprodução de uma cidade pode estar no Hotel New York-New York. Das várias célebres fachadas nova-iorquinas que compõem a frente do hotel, pode-se reconhecer o Empire State, o Chrysler Building e uma Estátua da Liberdade. Mas de onde tiraram prédios cor-de-rosa-choque uma montanha-russa cercando a Big Apple lasveguense é realmente uma incógnita.

Publicado em 13 de abril de 2001.

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