terça-feira, 1 de maio de 2007

Piquenique de primavera*

de Tóquio

Quem tem medo de alma penada que me perdoe. Mas, na primavera da terra do sol nascente, não há lugar mais exuberante do que os cemitérios. No fim de março, início de abril, quando os japoneses saem da toca para ver as cerejeiras floridas — o hanami — os budistas celebram o higan, uma semana de honras aos mortos. Em japonês literal, o termo significa “o outro lado da margem”, ou, para os budistas, o que os espera do outro lado do rio que divide a vida e a morte.

E aí, os locais aproveitam o pretexo para passear pelas alamedas cobertas pelas flores rosadas. Em Tóquio, o cemitério mais visitado durante o higan é o Aoyama-Bochi, o maior da cidade. Desde que o terreno virou cemitério, no final do século 19, mais de 100 mil pessoas já foram enterradas lá.

Agora, já que a beleza da vegetação convida, por que não ficar para lanchar? Não precisa nem trazer a matula de casa. É tão natural que grupos se reúnam para esticar a toalha xadrez no chão, entre os túmulos, que barraquinhas que vendem comida de todo o tipo vão sendo armadas pelas alamedas, assegurando que se a semana é dos mortos, os vivos também são filhos de Buda.
Publicado em 29 de março de 2002.
*Colaborou Yumiko Sakai

Um comentário:

Marcelino, Pane i Vino disse...

Tu escreves muito bem, hein?? Queres ser minha amiga???
Beijos.